quinta-feira, 26 de agosto de 2021

"ANTARTE - FEIRENSE AO PELOTÃO"

Carro de apoio Antarte-Feirense - Foto: João Fonseca

O titulo deste texto é uma frase que se ouve muitas vezes dentro do nosso carro de apoio durante as etapas da Volta a Portugal na inconfundível voz do Dr. José Soares, essa e outras como por ex.º:

  • " Antarte-Feirense, furo, corredor parado do lado direito" 
  • "Queda, queda, prioridade à equipa Antarte-Feirense"  
  • "Antarte-Feirense é abastecimento para o dorsal 127" 

Mas queres saber para que mais serve o carro de apoio numa etapa da Volta a Portugal? Anda dai... 😉

Este ano tenho o privilégio de conduzir a imponente 'Station' Mercedes C 300de, cedida pelos nossos parceiros da NASAMOTOR de Santa Maria da Feira, seguro, confortável, eficaz, com 300 cv!! de potência hibrida combinada, com consumos de um Diesel e a possibilidade de circular em modo 100% elétrico, ou seja energia 'verde' num desporto ecológico por excelência. 

Na minha viatura além de todo o equipamento incluído disponho ainda dos seguintes itens extra no meu "cockpit de bordo":

  1. Rádio volta para ouvir todas as informações da prova, desde fugas e tempos de fuga, avarias, etc.
  2. Rádio para comunicação interna com os ciclistas
  3. Rádio portátil para comunicação com o 2º carro de apoio
  4. Listagem de todos os ciclistas presentes na corrida, com respetivos dorsais e equipes
  5. Perfil da etapa
  6. Mapa da etapa
  7. No banco ao lado, livro da corrida aberto no percurso detalhado da etapa e comunicado do dia.
  8. Tablet para visionamento dos diretos das imagens da RTP1
"Cockpit" de bordo na Volta a Portugal - Foto: Antarte - Feirense

Podem perguntar-se para que precisamos de ver os diretos da RTP? Na verdade há muitas fases da etapa em que não conseguimos ver absolutamente nada da frente da corrida, principalmente nos dias de montanha quando o pelotão se fraciona e o presidente do colégio de comissários faz 'barragem' ás viaturas, é nessas alturas que as imagens dos diretos na TV são uma preciosa 'muleta' para ajuda na leitura dos acontecimentos.

Posições na caravana da prova - Foto: FPC
Além disso a posição do nosso carro de apoio na caravana da prova é definida pelo melhor corredor de cada equipa na classificação geral, ora em provas com 18 equipas como foi o caso nesta Volta a Portugal, se a nossa equipa não tiver um corredor entre os melhores na geral e tendo em conta que á frente do 1º carro de apoio seguem ainda o carro do presidente do colégio de comissários e o carro do médico, como podem imaginar a cabeça do pelotão fica muito distante. 
Quando a nossa posição na caravana é muito atrás além da falta de visibilidade acresce o tempo para dar assistência a um corredor em caso de avaria, sendo nestes casos preciosa a informação via rádio do corredor para o carro para minimizar danos e tempos perdidos, já que quando a avaria assim o permite, informa-mos o corredor para ir andando enquanto ultrapassamos os outros carros, posicionamo-nos atrás do presidente do colégio de comissários e informa-mos o corredor que já pode parar para lhe darmos a preciosa assistência.

Preparado para mais uma etapa - Foto: João Fonseca

As táticas para a etapa são delineadas em reunião com os corredores no autocarro antes da etapa, mas para comunicar com eles durante a etapa disponho de rádio de comunicações internas, para informações táticas, zonas estratégicas, problemas no percurso, avisos das vindas á água, conselhos, incentivos, etc. Além disso ainda dispomos de mais um rádio portátil para comunicações com o nosso 2º carro de apoio onde nesta Volta a Portugal seguiam o António Castro e o Paulo Figueiredo.

2º carro de apoio ao serviço  - Foto: João Fonseca

No banco de trás, e não é por ser pequeno😂, mas sim para ter fácil acesso ao material suplente e bidões, segue o Carlos Pinho, mecânico principal da equipa, sempre pronto a entrar em ação a qualquer momento em caso de avaria, furo, queda, ou ao chamamento do rádio Volta ou a pedido de um corredor pelo rádio interno, "Chefe tenho que trocar de bicicleta" ou " Chefe estou furado", normalmente sempre que se troca de roda ou bicicleta é necessário fazer afinações e ajustes na mudança traseira em andamento o que acreditem não é tarefa fácil, qualquer descuido e os dedos é que sofrem! 

Avaria solidária na 2ª etapa - Foto: João Fonseca

Nesta Volta tivemos a infeliz coincidência de ter um furo em simultâneo do Bruno Silva e do Fábio Oliveira já na parte final da 2ª etapa, ás vezes acontece principalmente nas quedas e não adianta pensar muito, mas sim dividir esforços e minimizar as percas de tempo para um rápido retorno á estrada. As aproximações ás chegadas, montanhas e as descidas são momentos de tensão acrescida já que sabemos que os riscos são acrescidos nesses momentos e as quedas por vezes surgem.

Um mecânico nunca vai só no banco de trás, e faz-se acompanhar no banco ao lado e aos seus pés de:

  • 1 par de rodas suplentes
  • 1 mala pequena de ferramenta
  • Spray lubrificante
  • Cabos, patilhas, dropouts, etc...
Afinar a bicicleta em andamento - Foto: João Fonseca

No tejadilho do carro de apoio, 7 Bicicletas suplentes colocadas estrategicamente, as dos lideres com acesso mais próximo ao mecânico, além disso grade munida de mais alguns pares de rodas suplentes.

Na mala da viatura, onde ao longo da etapa, e sempre que os corredores necessitem, o Carlos Pinho me faz chegar ás mãos para eu entregar ou por vezes entregar-lhes ele diretamente, vai o seguinte 'arsenal':

  1. Geleira com aproximadamente 80 bidões da Polisport, (aproximadamente 40 de água e 40 de sais minerais). Nesta Volta em alguns dias foi necessário reabastecer com mais bidões de água durante a etapa
  2. Bolsa térmica com barras e géis energéticos extra 
  3. Bolsas individuais de cada ciclista com roupa para a chuva e frio, luvas, sapatos suplentes, etc.
O fornecimento de água é uma constante - Foto: João Fonseca

Regulamentarmente o abastecimento abre aos 30 Km e fecha aos 20 Km, mas na Volta e devido ás condições climatéricas, estes limites foram diariamente alterados, muitas vezes o abastecimento liquido era permitido logo ao 1º km e normalmente fechava aos 8, 9, 10km... Estar bem informado acerca da abertura e fecho do abastecimento é um fator crucial e qualquer descuido pode ser fatal, cabe ao Diretor Desportivo estar atento e evitar consequências de um abastecimento irregular que pode ter consequências irreparáveis.

Sai mais um bidon fresquinho... - Foto: João Fonseca

No contrarrelógio o carro de apoio é equipado com a bicicleta suplente correspondente a cada corredor, sendo função do Diretor Desportivo dar indicações ao longo da prova, desde correção nas desmultiplicações, trajetórias, abordagens ás curvas, incentivos, informar tempos intermédios, etc. 

O apoio no contrarrelógio -  - Foto: João Fonseca

Há muitas situações e circunstâncias de corrida imprevisíveis que surgem ao longo de cada etapa e muitas vezes tudo aquilo que foi planeado com antecedência tem que ser corrigido no imediato, para isso é importante que o corredor saiba tomar decisões e quando houver tempo comunicar e informar o Diretor Desportivo o mais rápido possível. 

Tudo a postos para mais uma etapa - Foto: João Fonseca

Espero ter ajudado a que fiquem com uma ideia mais aproximada do que se passa num carro de apoio, e espero que nos vejamos por ai numa qualquer prova de ciclismo.

Boas pedaladas a todos!!


2 comentários:

Hugo Gomes disse...

Olá Joaquim!
Os carros de apoio são fundamentais para qualquer prova e, esta tua descrição, dá-nos uma ideia da complexidade que se vive dentro destes carros durante uma etapa.
Obrigado pela partilha e boas provas.

Joaquim Andrade disse...

Obrigado pelas palavras Hugo!