segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Vitória no Porto-Lisboa de 1990

''O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.''
 
 Campeão aos 20 anos no Porto-Lisboa
  A 10 Junho de 1990 com apenas 20 anos e ao fim de 342 klm, 9h19'02" realizei um dos sonhos de criança venci o Porto-Lisboa!
Foi uma das vitórias mais saborosas e extraordinárias de toda a
minha carreira desportiva, principalmente porque veio após um inicio de época de muita dor e sofrimento!
1990: sofrimento e glória!
De facto logo no inicio deste ano de 90, tive uma queda num treino onde fracturei os dentes frontais e o maxilar e que me fizeram passar 3 dias no Hospital a beber liquidos por uma palhinha! Seguiu-se uma recuperação longa e complicada, mas que não impediu que pudesse treinar e começar a competir. Mas como 'um azar nunca vem só'...no dia 3 de Março durante o Prémio de Lisboa ao descer a Lagoa Azul em Sintra, bati com a roda numa pedra rebentou o boyaux da frente, queda a alta velocidade... e lá fui de novo para o Hospital todo esfacelado, com muitas dores e uma clavicula partida! Fui operado, passei mais alguns dias no Hospital e 51 dias depois a 23 Abril, lá regressei á competição na Volta ao Algarve, que tinha na época 7 dias e 9 etapas! Passei alguns maus bocados como devem calcular, mas sobrevivi e depois seguiram-se as seguintes provas:
- Prémio Costa Azul de 9 a 12 Maio, fui 7º
- Abimota de 17 a 20 Maio, fui 3º e venci 1 etapa C.Relógio
- IV G.P OJogo/Volta do Futuro de 25 Maio a 3 Junho, 10 dias de duração com 1 prólogo + 10 etapas (havia 1 dia com 2 sectores) e 1477 klms. Após o prólogo, C.R.Equipas, que a minha equipa, Sicasal/Acral venceu, tornei-me no primeiro camisola amarela, no dia seguinte perdi a liderança, mas mantive-me sempre entre os primeiros lugares e no final daqueles 10 dias onde o vencedor final foi o Delmino Pereira (Recer-Boavista) eu fui 7º na Geral e fui o vencedor da Juventude. Esta Volta do Futuro não tinha limite de idades e a unica diferença é que era aberta ás equipas de Sub-23 (Séniores na altura), participavam todas as equipas profissionais, as séniores e mais algumas equipas estrangeiras, (pelo menos a Festina e a Royal) não posso agora precisar mas sei que o pelotão rondaria os 150 Ciclistas.
E chegamos ao dia 10 de Junho, famoso dia do Porto-Lisboa, 7 dias apenas após terminar uma prova tão dura e desgastante (praticamente uma Volta a Portugal dos nossos dias e sem dia de descanso), eu levava na minha mente dois planos bem distintos:
1º - O primeiro era fazer cerca de metade da prova e depois desistir para não me desgastar, já que era tão jovem e faltavam ainda tantas provas importantes, principalmente a Volta a Portugal.
Ou então: 
2º – Iria até Lisboa e lá perto ia atacar 'á morte' para me ir embora e ganhar! 
Iniciou-se a corrida e logo nos primeiros quilómetros, na subida de Gaia para os Carvalhos, feita a um ritmo louco com constantes ataques, começou-me a doer um joelho, pensei logo que iria desistir, mas... era tão cedo que resolvi insistir. Fui fazendo mais força com a perna oposta e ao fim de poucos quilómetros as dores passaram. A viagem era longuissima e várias vezes me passou pela cabeça a ideia de desistir, principalmente na zona da Batalha que me custou muitissimo, levava já tantas horas de bicicleta que o primeiro plano pareceu querer prevalecer! Mas com o aproximar de Lisboa tudo parecia tornar-se cada vez mais fácil e é curiosa a nossa mente, mas quando já se tem 200 klms nas pernas e faltam 140...parece que até já falta pouco! A  partir do Bombarral tal como planeado, começou o espectáculo Sicasal, a minha equipa começou a atacar para endurecer a corrida, a nossa principal aposta era o meu saudoso amigo Manuel Abreu, mas eu nesse dia era também um corredor protegido e com liberdade para atacar, por isso limitei-me a entrar nos grupos que se iam formando sem grandes desgastes. Inicialmente pensei em atacar a partir de Torres Vedras, na subida para a Malveira, mas quando lá chegamos, senti que era cedo, até porque a equipa do Lousa, nossa principal rival e que tinha o Paulo Pinto na época quase imbativel a sprintar, nos fazia uma marcação homem a homem e estavam ainda muito 'inteiros', resolvi aguardar e assim nos fomos aproximando de Lisboa e quando chegamos á mitica subida da calçada de Carriche ataquei com todas as minhas forças, 'á morte'!  O ciclista do Lousa que me estava a marcar o Antonino Araujo arrancou atrás de mim, mas nunca hesitei continuei como se a corrida terminasse no alto, e no alto da Carriche quando olhei para trás já não o vi a ele nem ao reduzido pelotão que sobrara! Depois foi voar aqueles 5 ou 6 klms que faltavam, senti que ia ganhar, nada doia, senti-me imbativel, finalmente a meta...quando a ultrapassei e parei ao fim daquelas 9h12m02s cheguei a pensar que tudo não passara de um sonho!
 Fui recebido em apoteose e a cerimónia protocolar e tudo que se lhe seguiu foram das experiências mais marcantes e lindas de toda a minha carreira! Só quem correu essa prova sabe da satisfação que era o chegar a Lisboa, imaginem então a alegria de ser o Vencedor!
 
 
Classificações Finais Porto-Lisboa 1990
 
Alguns Recortes de jornais: